sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Canção do tempo - Ary dos Santos

Poema de José Carlos Ary dos Santos sobre o tempo, musicado e interpretado pela belíssima voz de Fernando Tordo.

Bom fim-de-semana.

https://youtu.be/BvN70VZrfqY



Canção do tempo

Para um tempo que fica
Doendo por dentro
E passa por fora
Para o tempo do vento
Que é o contratempo
Da nossa demora
Passam dias e noites
Os meses...os anos
O segundo e a hora
E ao tempo presente
É que a gente pergunta
E agora...e agora

Tempo
Para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento
Tempo
Dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que apanha sempre o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir

Ai...o tempo constante
Que a cada instante
Nos passa por fora
Este tempo candente
Que é como um cometa
Com laivos de aurora
É o tempo de hoje
É o tempo de ontem
É o tempo de outrora
Mas o tempo da gente
É o tempo presente
É agora...é agora

Tempo
Para agarrar cada momento deste tempo
E terminar em absoluto ao mesmo tempo
Em temporal como os ponteiros do minuto
Tempo
Para o relógio bater certo com a vida
Que um homem bom que um homem sao que um homem forte
Que não chegava a conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte

Ary dos Santos

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Homo cuniculis. Sabeis quem é?

Descobri que o boasnotícias.pt é uma lufada de ar fresco no que se refere a notícias, que são geralmente más e deprimentes noutros sites.
A descoberta vem do Quénia e refere agora, dois milhões de anos depois, que o Homo erectus não viveu sozinho, e ainda bem!
Sem centros comercias, cinema, música, satélites, consolas de jogos, internet, livros e sem a capacidade de comunicação verbal ainda desenvolvida, como poderia o Homo erectus, ou outro qualquer, sozinho, aguentar tal pasmaceira de vida?! 
Análises e estudos efectuados aos ossos fossilizados de um crânio ajudaram a montar o puzzle há muito por completar. As conclusões parecem dar como certa, a presença de mais duas espécies de Homos no planeta: o Homo habilis e o Homo rudolfensis
Creio que estamos agora mais perspicazes e informados. Não serão precisos dois milhões de anos para concluirmos relativamente à existência de outras espécies de Homos...
Refiro-me em concreto ao Homo oryctopassus cuniculis - clicar para ver foto (oryctolagus cuniculus é o termo científico correcto) e o Homo latronis troikis (ver foto).
E escrever mais para quê?!

                                             (foto retirada do google)

Votos de um bom fim-de-semana.




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"A amizade e o amor segundo uma lógica de bazar" por Miguel E.Cardoso

Miguel Esteves Cardoso escreveu, acertivo, claro e directo como sempre. Há quem não aprecie o seu estilo de escrita. Eu gosto.
Em boa verdade, parece que estamos/somos agora mais desconfiados do que em qualquer outra fase da humanidade.
Culpa de quem, de quê e porquê? As respostas devem ser muitas...

Quando a sociedade começa a formar pessoas demasiado individualistas, egoístas, calculistas, gananciosas, depreciativas... é quase certo que, acontecendo o inverso, a desconfiança  aparece na linha da frente.
Ser-se afável, simpático, sincero, bondoso ou prestativo no mundo actual são qualidades que vão fazendo parte de uma minoria de pessoas; uma minoria em vias de extinção.
Sendo assim, quanto mais raras mais importantes. E se falamos de pessoas, a importância também se manifesta na capacidade de as saber preservar ao longo do Tempo.
Porém, desenganem-se aquelas que por possuirem qualquer uma destas qualidades, se livram dos julgamentos, das opiniões e da desconfiança de terceiros.
"Não há bela sem senão" e como poderia muito bem dizer Miguel Esteves Cardoso: na vida há coisas lixadas de entender!

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar 
por Miguel Esteves Cardos


"Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.
A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transacção em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado."

 
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'  

Texto retirado daqui.

sábado, 4 de agosto de 2012

"Africa" revisitada pelos Perpetuum Jazzile

Estávamos num Tempo em que a moda das músicas de intervenção sobre a fome e a pobreza em África rendeu alguns milhões... Não se sabe muito bem quem beneficiou mais, mas isso é outra história; USA for Africa - we are the world - foi a  música mais famosa, como devem estar recordados.
A banda americana Toto também teve o seu momento de glória na década de 80, embora numa escala menor, quis seguir a moda musical da época.
"Africa" faz parte das minhas memórias de adolescente. Confesso que, após ouvir e comparar estas duas versões, prefiro a do coro esloveno Perpetuum Jazzile.
Sem instrumentos musicais e usando apenas o instrumento da voz conseguiram esta pequena maravilha. É harmoniosamente bela a versão desta música!
 
 

A versão coral

 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

L'horloge - Charles Baudelaire

L'horloge

Horloge ! dieu sinistre, effrayant, impassible,
Dont le doigt nous menace et nous dit : " Souviens-toi !
Les vibrantes Douleurs dans ton coeur plein d'effroi
Se planteront bientôt comme dans une cible,

Le plaisir vaporeux fuira vers l'horizon
Ainsi qu'une sylphide au fond de la coulisse ;
Chaque instant te dévore un morceau du délice
A chaque homme accordé pour toute sa saison.

Trois mille six cents fois par heure, la Seconde
Chuchote : Souviens-toi ! - Rapide, avec sa voix
D'insecte, Maintenant dit : Je suis Autrefois,
Et j'ai pompé ta vie avec ma trompe immonde !

Remember ! Souviens-toi, prodigue ! Esto memor !
(Mon gosier de métal parle toutes les langues.)
Les minutes, mortel folâtre, sont des gangues
Qu'il ne faut pas lâcher sans en extraire l'or !

Souviens-toi que le Temps est un joueur avide
Qui gagne sans tricher, à tout coup ! c'est la loi.
Le jour décroît ; la nuit augmente, souviens-toi !
Le gouffre a toujours soif ; la clepsydre se vide.

Tantôt sonnera l'heure où le divin Hasard,
Où l'auguste Vertu, ton épouse encor vierge,
Où le repentir même (oh ! la dernière auberge !),
Où tout te dira : Meurs, vieux lâche ! il est trop tard ! "

Charles Baudelaire (1821-1867)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Gosto da matemática poética de Millôr Fernandes. A do Crato, "jamé"!

Nuno Crato, Ministro da Educação de Portugal e matemático, necessitaria de alguma queda para a poesia, pouco raciocínio lógico e muito sentimento para transformar números em arte.
Infelizmente, a firma Crato&Comp.Lda usa e abusa dos números como todos nós sabemos. 
Para controlar as suas despesas e poder sobreviver, esta pseudo firma elegeu as contas de "sumir"; as únicas com a vantagem, e segundo esta mega-empresa governativa, de deitarem abaixo qualquer sistema educativo, entre outros, enquanto o diabo esfrega metade de um olho só ! É obra.
Enfim! Ainda bem que existe a poesia dos números de Millôr Fernandes 

                    Poesia Matemática
 
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
Do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A educação de um país não vai lá com fórmulas matemáticas

É o que eu penso, embora neste país considerem que multiplicar X cabeças por Y resultados sobre K não sei das quantas, resolve aquilo a que eles denominam por uma maior eficácia e rentabilidade nos recursos educativos, nomeadamente, nos recursos humanos. 
Confesso: ainda não percebi como é que as mentes brilhantes do MEC conseguem a tal eficácia e rentabilidade pedagógica numa turma com 30 alunos ou numa turma do 1º ano de escolaridade com 26 criancinhas de 5 e 6 anos, muitas delas, ou a grande maioria, a necessitarem de apoio directo e indivualizado do professor. Não percebo... E se há momentos na vida em que aspiramos a seres superiormente dotados de super poderes, este seria um deles.
Ora, está visto e revisto que eles estão-se "marimbando" para alunos e professores.
É quase certo que ninguém, a médio ou a longo prazo, aguentará o sistema tal como está; o pessoal docente será cada vez mais a classe presente nos consultórios de psiquiatria.
Mais; o sistema de ensino que estão a criar, é selectivo. Só os bons alunos (porventura, os médios) atingirão as metas curriculares agora introduzidas (metas estas que alguns organismos científicos nas áreas da Matemática e do Português já vieram contestar).
O feitiço poderá virar-se contra o feiticeiro e o sucesso que o MEC tanto ambiciona, poderá não passar de um pesadelo. Pena que esta ambição esteja a acontecer à custa de mão-de-obra humana.
Um ministro da Educação formado e doutorado na área da Matemática faz toda a diferença. Ele pensa em matematiquês. Nós pensamos, ainda, em português. E por este andar, qualquer dia já ninguém sabe o que pensar.
Do Despacho normativo nº 13-A/2012 de 5 de Junho de 2012, registei algumas fórmulas matemáticas que regem a organização curricular do ano lectivo 2012-2013.
Ao fazermos a leitura deste documento, fica a ideia de que somos números, nada mais do que números!