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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"A amizade e o amor segundo uma lógica de bazar" por Miguel E.Cardoso

Miguel Esteves Cardoso escreveu, acertivo, claro e directo como sempre. Há quem não aprecie o seu estilo de escrita. Eu gosto.
Em boa verdade, parece que estamos/somos agora mais desconfiados do que em qualquer outra fase da humanidade.
Culpa de quem, de quê e porquê? As respostas devem ser muitas...

Quando a sociedade começa a formar pessoas demasiado individualistas, egoístas, calculistas, gananciosas, depreciativas... é quase certo que, acontecendo o inverso, a desconfiança  aparece na linha da frente.
Ser-se afável, simpático, sincero, bondoso ou prestativo no mundo actual são qualidades que vão fazendo parte de uma minoria de pessoas; uma minoria em vias de extinção.
Sendo assim, quanto mais raras mais importantes. E se falamos de pessoas, a importância também se manifesta na capacidade de as saber preservar ao longo do Tempo.
Porém, desenganem-se aquelas que por possuirem qualquer uma destas qualidades, se livram dos julgamentos, das opiniões e da desconfiança de terceiros.
"Não há bela sem senão" e como poderia muito bem dizer Miguel Esteves Cardoso: na vida há coisas lixadas de entender!

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar 
por Miguel Esteves Cardos


"Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.
A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transacção em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado."

 
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'  

Texto retirado daqui.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

L'horloge - Charles Baudelaire

L'horloge

Horloge ! dieu sinistre, effrayant, impassible,
Dont le doigt nous menace et nous dit : " Souviens-toi !
Les vibrantes Douleurs dans ton coeur plein d'effroi
Se planteront bientôt comme dans une cible,

Le plaisir vaporeux fuira vers l'horizon
Ainsi qu'une sylphide au fond de la coulisse ;
Chaque instant te dévore un morceau du délice
A chaque homme accordé pour toute sa saison.

Trois mille six cents fois par heure, la Seconde
Chuchote : Souviens-toi ! - Rapide, avec sa voix
D'insecte, Maintenant dit : Je suis Autrefois,
Et j'ai pompé ta vie avec ma trompe immonde !

Remember ! Souviens-toi, prodigue ! Esto memor !
(Mon gosier de métal parle toutes les langues.)
Les minutes, mortel folâtre, sont des gangues
Qu'il ne faut pas lâcher sans en extraire l'or !

Souviens-toi que le Temps est un joueur avide
Qui gagne sans tricher, à tout coup ! c'est la loi.
Le jour décroît ; la nuit augmente, souviens-toi !
Le gouffre a toujours soif ; la clepsydre se vide.

Tantôt sonnera l'heure où le divin Hasard,
Où l'auguste Vertu, ton épouse encor vierge,
Où le repentir même (oh ! la dernière auberge !),
Où tout te dira : Meurs, vieux lâche ! il est trop tard ! "

Charles Baudelaire (1821-1867)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Gosto da matemática poética de Millôr Fernandes. A do Crato, "jamé"!

Nuno Crato, Ministro da Educação de Portugal e matemático, necessitaria de alguma queda para a poesia, pouco raciocínio lógico e muito sentimento para transformar números em arte.
Infelizmente, a firma Crato&Comp.Lda usa e abusa dos números como todos nós sabemos. 
Para controlar as suas despesas e poder sobreviver, esta pseudo firma elegeu as contas de "sumir"; as únicas com a vantagem, e segundo esta mega-empresa governativa, de deitarem abaixo qualquer sistema educativo, entre outros, enquanto o diabo esfrega metade de um olho só ! É obra.
Enfim! Ainda bem que existe a poesia dos números de Millôr Fernandes 

                    Poesia Matemática
 
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
Do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954

terça-feira, 3 de julho de 2012

"Tempo sem Tempo" ou "Here but I'm gone"

Este espaço encerra para descanso do "pessoal". Deixo-vos em boa companhia; um poema do autor uruguaio, Mário Benedetti, "TEMPO SEM TEMPO" porque ter tempo sem tempo também é preciso.
Boas férias se for o caso, e, tal como na canção de Curtis Mayfield "Here but I'm gone".
Até um dia.


TEMPO SEM TEMPO

Preciso de tempo necessito esse tempo
que outros deixam abandonado
por que lhes sobra ou já não sabem
o que fazer com ele

tempo
em branco
em vermelho
em verde
até castanho-escuro
não me importa a cor
cândido tempo
que eu possa abrir
e fechar
como uma porta

tempo para olhar uma árvore um farol
para andar pelo fio do descanso
para pensar que bom hoje não é inverno
para morrer um pouco
e nascer em seguida
e para me dar conta
e para me dar corda
preciso tempo o necessário para
chafurdar umas horas na vida
e para investigar por que estou triste
e acostumar-me ao meu esqueleto antigo

tempo para esconder-me no canto de algum galo
e para reaparecer em um relincho
e para estar em dia
e para estar na noite
tempo sem recato e sem relógio

vale dizer preciso
ou seja necessito
digamos me faz falta
tempo sem tempo

 (Mário Benedetti)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Poder ser tu, sendo eu!" - Poema (Ruy Belo)

Poema

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ei-lo que avança
De costas resguardadas pela minha esperança.
Não sei quem é. Leva consigo,
Além de sob o braço o jornal,
A sedução de ser, seja quem for,
Aquele que não sou.
E vai não sei onde
Visitar não sei quem
Sinto saudades de alguém
Lido ou sonhado por  mim
Em sítios onde nunca estive.
                               Ruy Belo


Bom fim-de-semana e votos de um excelente final de ano lectivo, extensivo a todos os meus colegas de profissão.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Poema triste por Mário Quintana

“Eu Escrevi um Poema Triste”
         Mário Quintana

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
Mais

Bom fim-de-semana ao som de "Time After Time" numa versão acústica (Emiliana Torrini).


quarta-feira, 23 de maio de 2012

"Minha senhora, você é uma professora de merda!

O título é politicamente incorrecto mas assustadoramente real:"Minha senhora, você é uma professora de merda!"
Na entrevista que se segue, a autora do livro (uma jovem professora de Francês) fala da violência, das angústias, das ameaças e dos insultos vividos dentro e fora da sala de aula.
Desiludida com o sistema de ensino francês, Charlotte Charpot decide leccionar na Bélgica onde conclui que a situação não é melhor.
Segundo o testemunho desta professora, que entretanto deve ter abandonado a profissão (a entrevista é de 2009) são, apenas e só, imperativos económicos que estão na origem das reformas na Educação. A pedagogia aqui, não é "tida nem achada" pois como sabemos, é uma despesa extra que nenhum governo pretende assumir.
Na Bélgica, na França... ou por cá, o caos é já ali ao virar da esquina; a irresponsabilidade de alguns pagar-se-á cara daqui uns anos.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Balanço provisório" por José Fanha

Poesia e  música casam bem uma com a outra, digo eu.
Acompanho pelo som do piano, nada com ler este "balanço provisório" do autor que eu terei o prazer de conhecer pessoalmente mais logo.

 "Rolling in the Deep" (Adele) por The piano Guys
 
Balanço provisório
                                                                                         José Fanha

Estamos mais gordos mais magros
talvez mais denso
ou mais pesado o nosso olhar.
Temos pressa de ternura
angústias de vez em quando
e umas contas de telefone atrasadas
para pagar.

Temos falta de cabelo
três ou quatro cicatrizes
sofremos de inquietação.
Muitas vezes nos disseram
como é rápido o deslize
mesmo assim nunca deixamos
de dar corda ao coração.

Daqueles que já partiram
guardamos silêncio e nome
e uma improvável mistura
de amargura e rebeldia
nas palavras desordeiras
que dizem redizem cantam
relembrando dia a dia
como é feita de azinheiras
a capital da alegria.

Muitas ondas já morreram
outras tantas vão nascer
muitos ricos já se cansaram de correr até à foz
águas claras que se foram
outras águas se turvaram
e agora restamos nós.

Somos muitos somos poucos
calmamente radicais
sabemos vozes antigas
trazemos a lua ao peito
amamos sempre demais.

Neste caminho tomado
fomos traídos trocados
vendidos aos Deus dará.
Nem por isso desistimos
e assim nos vamos achando
perdidos de andar às voltas
nas voltas que a vida dá.

Somos uns bichos teimosos
peixes louros aves rindo
plantas poetas palhaços
e portanto resumindo
somos mais do que nos querem
estamos vivos
estamos lindos.
                       José Fanha (poema retirado desta ligação)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Coisas que não há que há" de Manuel António Pina

Há umas semanas, "devorei" um livro da autoria de Manuel António Pina - Queres Bordalo? - enquanto esperava a chamada para uma consulta.
Estou grata à pessoa que me ofereceu este livrinho de contos porque me fartei de rir com os meus botões.
Para que conste; quando eu for grande também quero escrever assim, com engenho e graça! 


Coisas que não há que há 
           de Manuel António Pina

Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia...

Manuel António Pina  é um poeta português natural do Sabugal, Beira Alta. É licenciado em Direito mas, para além de escrever poesia e livros infantis, sempre se dedicou ao jornalismo (informação retirada de http://casadospoetas.blogs.sapo.pt)

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Mas onde moras, ó tempo, que não te consigo achar?"

 O TEMPO  por Luísa Ducla Soares

Pelas areias da praia
o tempo fui procurar.
Mas onde moras, ó tempo,
que não te consigo achar?

Pelos verdes da floresta
o tempo fui procurar.
Mas onde moras, ó tempo,
que não te consigo achar?

Pelas pedrinhas da rua
o tempo fui procurar.
Mas onde moras, ó tempo,
que não te consigo achar?

Tiquetaque, o coração
é um relógio a bater.
O tempo que não achei
Já me fez envelhecer.

Poema retirado da obra infantil "A Cavalo no Tempo", de Luísa Ducla Soares (Ilustrações de Teresa Lima) - Civilização Editora

quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Instruções para dar Corda no Relógio" - Cortázar

Que beleza de texto, este, do escritor argentino Julio Cortázar...

lnstruções para dar Corda no Relógio – Cortázar

domingo, 27 de março de 2011

Sugestões de Leitura - Marginal (Poemas e breves cantigas)

"...Acho que escrevo sempre o mesmo poema. As palavras é que são diferentes..."                                                Vieira da Silva

Nascido há 64 anos, em Ílhavo, António Manuel Vieira da Silva, é o autor da sugestão de leitura de hoje.
Marginal (Poemas breves e cantigas), foi editado pela MC - Mundo da Canção, em 2002. A 2ª edição deste livro aconteceu em Junho de 2010 e como o Tempo tem uma especial atenção neste blogue, gostaria de transcrever as frases finais do seu prefácio; um regresso ao passado que me agradou particularmente.

«Éramos jovens, dizia, e pensávamos. Ílhavo não era cidade, era outro lugar:  nem melhor nem pior, apenas outro. No Verão apanhávamos camarinhas e íamos, de bicicleta ou de dedo esticado, para a Costa Nova. Depois apanhávamos a barca para A Bruxa, onde havia uma jeropiga que parecia ser a melhor coisa do mundo e havia os mundos que nós inventávamos. No Inverno ficávamos pelos cafés do costume, com uma ou outra escapadela pelo meio. Se não fosse o clima aceso da época dir-se-ia que não se passava nada - e no entanto, passava-se tudo: apaixonávamo-nos, descobríamos os mundos do mundo, ouvíamos a música dos silêncios, cavalgávamos o Sete Estrelo.
Agora, Ílhavo mudou, como o País. Novas ruas, vistas renovadas, prédios que foram abaixo e levaram com eles a memória das pedras. Nós, todos, também mudámos. Para melhor ou para pior, para mais longe ou para mais perto, partimos. Mesmo os que ficámos. E, sobretudo, vivemos. E de termos vivido o que vivemos nunca me arrependi, e tenho a certeza que o Vieira da Silva também não. Porque, se calhar, o que distingue os poetas das pessoas normais é mesmo só isso: ser capaz de descobrir, sempre, um mundo novo à sua volta, onde quer que seja; elevar as palavras à condição de diamantes, sem se deixar ofuscar pelo brilho; saber que os poemas só valem a pena quando têm gente lá dentro, como ossos, nervos, veias, emoções. Porque o sonho, esse, vale sempre a pena. Nós sabemos, porque voámos.»   
                                  Viriato Teles - Lisboa, 29 de Dezembro de 2001

Termino com dois poemas breves ...
                                        Bilhete       
                                                 
                                            Hoje
                  não ouvi o que disseste                                          

                                           estive                              
                                   preocupado                                                  
            em ouvir o que não disseste 

                                  Pensamento                                      
                           
                               O pensamento
                   devia ser aquele relógio

       existir enquanto a corda durasse

                          e que bom que era
                   poder partir-lhe a corda

                                Vieira da Silva, in Marginal, páginas 30 e 32
                                                       
                                                  (À venda aqui                                       

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Os "Chibos sabichões"

"Chibos sabichões" é um conto popular galego adaptado por Olalla González com ilustrações de Federico Fernández. É um livro que integra a lista Ler + do Plano Nacional de Leitura para o ensino pré-escolar. A tradução portuguesa é de Dora Isabel Batalim (2004).
Uma história de chibos espertos e de um ogre avarento que ao querer um grande repasto, acaba por passar fome e voar pelos ares!

             Chibos Sabichões

Era uma vez três chibos
que viviam no cimo de uma montanha:

um chibinho sabichão pequeno
um chibo sabichão médio 
e um chibão sabichão grande.

O chibinho sabichão pequeno
tinha uma barbicha pequena
   e uns chifres curtinhos.

O chibo sabichão médio
tinha uma barbicha que não era grande nem pequena
e uns chifres que não eram curtos nem compridos.

O chibo sabichão grande
tinha uma barbicha grande
e uns chifres compridos e retorcidos.

Certo dia,
o chibinho, o chibo e o chibão desceram da montanha
porque na outra margem do rio cresciam umas ervas frescas e viçosas.

Mas, para lá chegar
era preciso atravessar uma ponte.

Debaixo da ponte vivia um ogre terrível.
Tinha os pés peludos,
os barços grossos como troncos
e o nariz cheio de verrugas.

Era tão malvado
que vigiava a ponte dia e noite.
Ninguém se atrevia a passar por ali.

Os chibos sabichões tinham ouvido falar do ogre,
mas a erva era tão apetitosa
que decidiram enfrentá-lo.
(...)
Primeiro chegou a chibinho sabichão pequeno
com a sua barbicha pequena e chifres curtinhos,
    avançando decidido pela ponte... patati   patati

Quando estava a chegar ao meio da ponte, 
apareceu o ogre:

Quem faz patati, patati, patati na minha ponte?
O chibinho sabichão. 
Pois vou-te comer...!
Ai, não, que ainda sou muito pequeno!
Espera pelo chibo sabichão médio,
que é mais gordo do que eu.


               O ogre,
               coçando a orelha, disse:

Por aqui nunca ninguém atravessou,
mas com esse chibo sabichão médio
ficarei melhor servido. Passa, passa...!

     E o chibinho 
            sabichão 
               pequeno atravessou a ponte. 

Logo depois, chegou o chibo sabichão médio, com a sua meia-barbicha e chifres pouco compridos,
  avançando decidico pela ponte...
     patatã   patatã   patatã

Quem faz patatã, patatã, patatã na minha ponte?
O chibo sabichão médio. 
Pois vou-te comer...!

Ai, não, que eu ainda não sou crescido!
Espera pelo chibão sabichão grande, 
que é muito mais gordo do que eu. 

             O ogre grunhiu:
         Tenho muita fome,
         mas esperarei
         por esse chibão
         sabichão grande
    para comer até me fartar.
         Passa, passa...!

E chegou o chibão sabichão grande, com a sua barbicha grande e chifres compridos
avançando decidido pela ponte... patatão  patatão  patatão

O ogre surgiu imediatamente:
         Quem faz patatão, patatão, patatão 
                            na minha ponte?

     O chibo sabichão grande! 
 Pois vou-te comer...!
  Pois a ver se te atreves! 

O agre,furioso, desatou aos saltos pela ponte.

E o chibo sabichão grande baixou a cabeça, bufou...
    E marrou no ogre 
          com todas as suas forças!

Tal cornada lhe deu
que o fez voar pelos ares. E o ogre nunca mais voltou!

O chibão sabichão grande
foi juntar-se ao chibo sabichão médio
e ao chibinho sabichão pequeno.

E tanta erva comeram
que se transformaram 
em três chibos sabichões...
ENORMES! 
 "Chibos Sabichões" faz parte da colecção LIVROS PARA SONHAR (2004) da Editora Kalandraka

                                 (à venda aqui ou aqui)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sugestão de Leitura

" O TEMPO SÓ FALTA NO FIM", confirma-se e assim escreveu também, o autor da minha última Sugestão de Leitura deste Verão.
Aproveito o (pouco) TEMPO que falta antes de me dedicar aos "ossos do ofício" para vos dar a conhecer o livro que encerra mais uma trilogia de leituras. Para terminar, nada como divulgar, então, a 3ª obra de ficção, do autor de "O Cão Andaluz", Jorge Seabra.
"Anos de Eclipse" foi o primeiro romance publicado deste escritor (2000).
Um crime por desvendar na cidade de Coimbra, um amor do passado que sobreviveu ao tempo e porventura, algum "suspense"; são três bons motivos para lerem este livro, com uma reedição marcada para o final deste ano, a cargo da editora Calendário de Letras.
Boas leituras!                                                                                                  


(à venda aqui ou aqui)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

sugestão de Leitura

"como tornar-se doente mental"


Quando me falaram neste livro, achei que devia deixar a sua leitura para o fim. Não me perguntem porquê. Por norma (para mim) os primeiros são os últimos; neste caso refiro-me à cronologia das publicações.
Dos três livros que li deste autor e que se encontram mencionados neste blogue como "sugestão de leitura", este, foi o primeiro a ser editado, no ano de 2006. Neste momento vai na 19ª edição, imagino por isso, que seja um bom indicador da aceitação e do interesse do mesmo.
Encerro assim, esta trilogia de leituras sobre  J.L.Pio Abreu. Convém esclarecer-vos que este texto já estava escrito há umas semanas e começa com algum humor ironizado, humor este, que também está presente ao longo de todo este livro. Como compreenderão, hoje, e por razões pessoais, talvez escrevesse este "post" de modo diferente. Mas, não irei alterar nada, o que escrevi há duas semanas atrás, manter-se-á, apesar de tudo.

Quer tornar-se doente mental e não sabe como fazê-lo ou que passos dar?!...
Este livro dá uma pequena grande ajuda neste sentido; ensina-o a ser tudo isso e mais alguma coisa; dá-lhe as pistas para uma carreira de sucesso nesta área.
É verdade que Pio Abreu, recorre à ironia para falar de um assunto tão complexo como a doença mental e fá-lo com inteligência porque, de outra forma, este livro seria demasiado técnico e logo; não estaria acessível à compreensão do leitor comum ou então, seria uma seca descomunal e a poucas páginas do seu  início, a maioria fecharia o livro, amaldiçoando os €€€ que gastou no dito. Não é o caso, aqui.
Obviamente que no final, o autor retoma o título "como tornar-se doente mental" e inverte a questão; "como não ser doente mental", pegando "a velha questão do que é ser normal ou, pelo menos mentalmente saudável" e sobre isto, afirma sentir-se "pouco habilitado para nos dar receitas seguras". 
(...) uma tão acelerada e surpreendente mudança de tecnologias, culturas e hábitos, ninguém sabe como vai ser o futuro".(pág.139)


A mensagem de "como tornar-se doente mental", talvez seja também, alertar qualquer um de nós como um potencial "eleito" para a aquisição de qualquer uma das doenças mentais, retratadas no livro. E se estamos convencidos que até somos umas pessoas normais ou mentalmente saudáveis, eis senão quando, quase a terminar, chegam as palavras certeiras que nos retiram parte desta pretensa convicção porque, segundo este médico psiquiatra:
"(...) Todos temos direito a ser um bocadinho fóbicos quando uma desgraça se abate sobre nós, um pouco paranóides quando nos envolvemos numa luta difícil, ligeiramente obsessivos enquanto estudamos a complexidade das coisas, um pouco histriónicos quando nos queremos impor aos outros. Da tendência esquizóide nascem teorias inovadoras e, através das mudanças de humor, a criatividade. Se o leitor consegue fazer tudo isto com sucesso, os meus parabéns: sabe respeitar os contextos da vida e adequar-se a eles. E, embora sejam admissíveis algumas combinações verdadeiramente patológicas, ter todas as doenças é o mesmo que não ter nenhuma. O importante é que a sua vida seja bem sucedida, você não se queixe e os outros também não se queixem de si (...).
O grande problema do doente mental é fazer sempre o mesmo em todas as circunstâncias. É por isso que eles são muito parecidos uns com os outros e os podemos classificar. Pelo contrário, as pessoas saudáveis, por serem tão diferentes umas das outras e fazerem coisas diversas em diversos contextos, são inclassificáveis." (pág.140)


Reading book by fire place smiley
Boas leituras!
        
            (este livro encontra-se à venda aqui)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um "Estranho Quotidiano" com direito a vídeo-reportagem

Um curto intervalo nas brevíssimas "férias" deste blogue, para divulgar uma informação que me foi, entretanto, dada a conhecer. 
Circula no famoso You Tube, desde o dia 9 de Junho, uma vídeo-reportagem realizada pela esectv (suponho que será a Escola Superior de Educação de Coimbra) sobre o livro acima mencionado e com os comentários a cargo do próprio autor: J.L.Pio Abreu. Uma referência que chegou na hora certa, sem dúvida.
São 5 minutos e 10 segundos para ver, ouvir e reflectir. 
Fiquem bem. 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

sugestão de Leitura

"Quem nos faz como somos", foi editado pela D.Quixote em 2007 e o seu autor é J.L.Pio Abreu, autor de outro livro aqui (e aqui) mencionado, como sugestão de leitura.

«Porque é que faço o que faço, porque é que penso o que penso? A maioria de nós dirá: porque eu quero(...) pág.17

"Quem nos faz como somos" é segundo o seu autor, um livro cujos 40 capítulos que o compõem «atravessam muitas questões com forte carga ideológica: o papel do homem e da mulher, a globalização, o confronto das civilizações, a questão do espírito e da natureza humana, a liberdade, o papel dos média, as crenças religiosas e, em particular, a crença na imortalidade» pág.19

Num universo tão complexo como o da genética, Pio Abreu pretende de alguma forma, transmitir ao leitor comum que pouco ou nada percebe sobre combinações entre proteínas, cromossomas, cadeias, átomos, moléculas ou genes, a importância deste ramo da ciência, na formação da humanidade. E, pretende fazê-lo de uma forma mais ou menos "simplificada", usando  para isso, um modo de escrita que, como o próprio refere "... pode parecer insólito" porque põe "os genes ou a cultura a falar na primeira pessoa". pág.20

Nas primeiras partes do livro, o autor revela-nos que os genes e os signos, representam, no primeiro caso, a nossa extensa história biológica e, no caso dos signos, traduzem a nossa enorme dependência cultural (ideias retiradas do Prefácio escrito por Carlos Fiolhais-Físico e Director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra).

Nos capítulos seguintes encontrei as partes mais interessantes deste livro (opinião pessoal, obviamente). Termino com estes textos, incluídos no capítulo 3, "COMO É QUE EU CONSIGO DOMINAR OS HUMANOS", a propósito de assimetrias entre homens e mulheres...

   «Tudo isto acontece nos homens, que têm um hemisfério bem diferenciado do outro, a ponto de uma pequena lesão dessa metade esquerda os impedir de falar e raciocinar com lógica. Porém, se a parte direita continuar a funcionar, eles podem ainda sentir e apreciar os aspectos importantes da vida, mantendo os sentimentos e a boa coordenação de todos os seus instintos.  É claro que, com esta organização cerebral, os homens têm um pequeno problema: é que às vezes pensam de maneira e sentem de outra, dando voltas aos miolos para resolver esta contradição(...)
   Falei dos homens porque, com as mulheres, o caso é outro: elas têm os cérebros menos assimétricos e, por exemplo, o controlo da fala ocupa ambos os hemisférios cerebrais. Ou seja: sentem o que pensam e pensam como sentem, não têm qualquer contradição a resolver. Talvez tenha de ser assim, porque são elas as principais protectoras dos genes e, sem essa protecção, não existiriam pessoas para me produzir. É por isso que as mulheres são fãs da sinceridade e da transparência, embora sejam frequentemente incoerentes: o que pensam hoje não é o que pensaram ontem, simplesmente porque os seus sentimentos mudaram, e talvez amanhã mudem de novo (...)» pág. 75 

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